NOTA PÚBLICA – ciganofobia em Vitória da Conquista-BA
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O INSTITUTO PLURIBRASIL vem a público manifestar seu repúdio aos atos ciganofóbicos de violência física e verbal dirigidos à comunidade cigana em Vitória da Conquista-BA, onde palavras GENERALIZANTES e equivocadas promovem preconceito e discriminação étnico-racial contra TODOS os ciganos, indistintamente.
As informações divulgadas pela mídia e por associações de que houveram conflitos entre ciganos e policiais nos deixam perplexos, ainda mais sabendo que vidas foram ceifadas. De acordo com uma nota pública emitida pela Associação Estadual de Etnias Ciganas , sediada no Estado do Mato Grosso, imediatamente após o conflito, a polícia militar iniciou “uma verdadeira caçada e matança junto à todas as famílias ciganas da cidade e região”, com invasões de casas, prisões ilegais, ameaças, queima de carros e outras ações violentas e ilegais. Outros relatos apontam que 15 pessoas, entre elas um adolescente de 14 anos, foram baleadas e seis homens da comunidade foram assassinados.
Sob à luz da Lei e da Justiça entendemos que se alguém comete um delito esse alguém deve pagar pelo seu erro, no entanto consideramos um ato desumano e criminoso, passível de punição severa, a propagação de generalizações irresponsáveis que atinjam a vida de inocentes. A máxima equivocada de que “se um cigano fez algo errado então todos os ciganos devem pagar” deve ser imediatamente reprimida a fim de que não se promova ainda mais ÓDIO e INJUSTIÇA contra qualquer pessoa de etnia cigana.
Os relatos e imagens que circulam nas redes sociais mostram ATAQUES COVARDES CONTRA FAMÍLIAS DE ETNIA CIGANA QUE NÃO ESTÃO ENVOLVIDAS NOS CONFLITOS QUE ACONTECERAM COM AS FORÇAS POLICIAIS, e sequer tinham relacionamento próximo com os indivíduos envolvidos nesses conflitos.
O Brasil é formado por uma população multiétnica, plural, de cores e origens várias. Se para cada crime cometido por indivíduos de determinado grupo, ações generalizantes de retaliação policial forem realizadas contra todos os pertencem àquele grupo, não sobreviveremos. É um estado de loucura que comprometeria a idoneidade das forças policiais.
Como instituição voltada para a defesa da vida, da justiça e da segurança, expressamos nossos sentimentos às famílias daqueles que perderam a vida nesse triste episódio, tanto dos nobres policiais como da sofrida comunidade cigana. Desejamos que os ânimos se acalmem e que quem quer que tenha cometido excessos, independentemente se são policiais, civis comuns ou membros das comunidades, sejam exemplarmente punidos, a fim de que casos semelhantes não voltem a ocorrer.
Sugerimos à mídia e à Polícia Militar do Estado da Bahia que busquem uma melhor capacitação sobre a diversidade étnica que compõem o espectro das comunidades ciganas. Usar o etnônimos “cigano” em manchetes (“ciganos mataram”, “ciganos são presos”, “ciganos fugiram”) só contribui para a perpetuação da estigmatização dos povos ciganos. As capacitações também se fazem necessárias para que policiais aprendam a contextualizar suas abordagens em relação a culturas minoritárias, principalmente porque o Estado da Bahia é marcado por uma expressiva população de etnia cigana.
Sem mais,
EQUIPE DO INSTITUTO PLURIBRASIL